20 Anos de Metodologias Ágeis: Como está hoje e para onde estão indo?

Wagner Hörlle • December 8, 2021

Já se passaram 20 anos desde que o Manifesto Ágil de Desenvolvimento de Softwares foi publicado , faz ainda mais tempo desde que o conceito foi estruturado pela primeira vez. Ainda assim, não há um entendimento claro no mercado em geral sobre o que de fato é Agile

“Uma grande quantidade de times que alegam serem ‘ágeis’, na realidade não são. Já escutei pessoas falando — de forma séria, sem brincadeiras — que eles eram “ágeis”, por usarem algumas práticas Scrum e algumas ferramentas de tickets. Existe uma quantidade absurda de mal-entendidos sobre Agile”, disse Andy Hunt, um dos autores do manifesto e coautor do livro “O Programador Pragmático”.

De acordo com Dave Thomas, coautor de “O programador pragmático” e do Manifesto Ágil, até a forma que Agile — Ágil — é usado em conversas e reuniões, hoje em dia, é errado. Ele explicou que Ágil é um adjetivo, não um substantivo, e embora a diferença possa parecer um detalhe, ela é, na verdade, muito significativa. “A essência do manifesto é que tudo muda, e a mudança é inevitável. No entanto, uma vez que você começa a falar sobre ‘ágil’ como uma coisa, então você a congela”, disse Thomas.

Entretanto, Alistair Cockburn, cientista da computação e outro coautor do manifesto, acredita que o Agile ser mal interpretado é, na verdade, algo positivo. “Se você tiver uma boa ideia, ela será ignorada ou mal interpretada, mal utilizada, mal representada e desviada… o fato de as pessoas usarem mal o termo “ágil”, para mim, é um sinal de sucesso. É um comportamento humano normal”.

O que é ágil, afinal?

Uma coisa que falta no Manifesto Ágil é uma definição, propriamente dita, sobre o que é Ágil. No livro “ Práticas de um programador ágil , ” Hunt definiu o desenvolvimento ágil como uma abordagem que “usa feedbacks para fazer ajustes constantes em um ambiente altamente colaborativo.” 

“Acredito que isso – essa definição – é muito correta. É tudo sobre feedback e ajustes contínuos. Não se trata de reuniões tradicionais, tickets, quadros de Kanban ou story points”, disse Hunt. 

Mas Thomas acredita que há uma boa razão pela qual uma definição não foi incluída no manifesto, pois Ágil trata-se de algo contextual. “O ágil tem suas particularidades para cada time individualmente, em um ambiente particular, provavelmente em um projeto particular, porque diferentes projetos terão diferentes formas de trabalhar”, observou. “Você não pode comprar um quilo de Ágil em algum lugar. Isso não existe, nenhuma equipe pode comprar um curso de dois dias – e aprender – sobre como ser ágil.”

Thomas pontuou ainda que ele não se incomoda com a definição de Hunt sobre o que é Ágil, porque temos de trabalhar nisso. “O conhecimento sobre nada disso pode ser simplesmente entregue. Nada pode ser definido porque é tudo contextual. O modo de expressar os valores que tínhamos era muito poderoso – justamente – por permitir ser contextual,” disse. 

Dave West, CEO e Product Owner na  Scrum.org , acredita que as verdadeiras razões pelas quais as pessoas não entendem agile se devem às dinâmicas sociais, não à prática ágil ou mesmo aos problemas que estão procurando resolver. “Diversas vezes vemos este tipo de padrão, em que a agilidade é prejudicada não pelo trabalho em si, nem mesmo pelas habilidades dos profissionais, mas – sim – pelos sistemas sociais e o contexto que os profissionais estão inseridos… Chefes querem saber quando algo vai ser feito, mas quando você pergunta o que eles querem que você entregue, eles não sabem dizer… mas – independente disso – eles querem saber quando será entregue”, explicou. 

Se queremos realmente aproveitar a oportunidade que o ágil apresenta, precisamos mudar o sistema no qual o ágil acontece, de acordo com West. Por exemplo, ele disse que, ao mesmo tempo que a Fidelity foi uma das primeiras empresas a fazer Scrum, ainda hoje em dia, eles estão lutando com as idéias em torno disso, porque não necessariamente mudaram a forma de incentivo para as pessoas.

Sobre os princípios fundamentais

Para voltar ao verdadeiro significado de Ágil, precisamos nos afastar das terminologias e voltar aos quatro princípios fundamentais, de acordo com Danny Presten, fundador da comunidade  Agile.ai  . Entregar valor incremental, ter uma boa visão do trabalho, ser capaz de priorizar e melhorar os ciclos é “o que realmente faz o ressoar do ágil. Não são as terminologias. Quanto mais as pessoas se concentram nos princípios e menos nas terminologias, melhor o ágil será”, disse Presten. 

De acordo com Hunt, um grande ponto de partida para as equipes que só experimentaram os métodos de gerenciamento tradicionais, ou que não tiveram tanto sucesso com a entrega de software, é começar com Scrum. Mas ele deve ser usado apenas como um ponto de partida. Hunt diz ainda que “o pensamento ágil moderno vai muito além do Scrum. Ele vai até o verdadeiro desenvolvimento e entrega contínuos, comprometendo-se diretamente muitas vezes por dia… o objetivo sempre foi encurtar os loops de feedback, para ser capaz de mudar de direção rapidamente, para alavancar a aprendizagem da equipe”. 

Presten comparou o aprendizado do Ágil com aprender a tocar um instrumento. “À medida que começa, – primeiro – aprende a ler partituras. Isso ajuda a te dar impulso e clareza, mas se parar aí e tudo o que fizer é ler a partitura sem pensar e passar pelos movimentos, então há um problema”, disse ele. 

Uma boa maneira de olhar para isso é observar a quantidade de feedback que você está recebendo e quando eles acontecem, disse Thomas. “A única maneira de ser ágil é se adaptando constantemente ao seu ambiente. Às vezes esses feedbacks podem vir em questão de minutos, outras vezes podem ser dias ou, ainda, semanas. Mas se você não está recebendo feedbacks tantas vezes quanto você pode, então você não está utilizando uma metodologia Ágil”, disse ele. 

Cockburn explicou que houve três ondas de Agile. A primeira foi ao nível do time, então o ágil começou a se mover para a escala organizacional e, agora, estamos na terceira onda que é em uma escala global. A escala global inclui departamentos financeiros, RHs, jurídicos, governos, projetos sociais, equipes híbridas e até mesmo em espaços geográficos diferentes. “Não são só times. Na verdade, não são só organizações. Não é apenas software. Não são realmente produtos. É uma adoção global”, disse.

Ele continuou a explicação sobre a razão pela qual ágil está sendo olhada em uma escala global: a VUCA (volatility, uncertainty, complexity, and ambiguity — volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade). Ele disse que o mundo é “VUCA” e isso se tornou ainda mais evidente com a COVID, os Lockdowns e as formas híbridas de trabalhar para cada pessoa, time, indústria, empresa e países. Todos precisam ter a capacidade de se mover e mudar de direção rapidamente com facilidade, disse ele. 

“Este é o mundo novo e atual. Está acontecendo. Ágil deixou de ser apenas sobre softwares há muito tempo; agora é completamente geral. Pode-se olhar para esses valores e princípios e extrapolá-los para qualquer empreitada”, disse Cockburn. 

Voltando a atenção para o manifesto

O Manifesto Ágil foi criado para descobrir as melhores formas de trabalhar, desenvolver e entregar software. Ele inclui quatro valores fundamentais e 12 princípios.

De 11-13 de fevereiro de 2001, 17 líderes se reuniram no Snowbird ski lodge em Utah para tentar encontrar semelhanças de pensamento sobre o desenvolvimento de software. Essas semelhanças ficaram conhecidas como o Manifesto para o Desenvolvimento Ágil de Software — o Manifesto Ágil. Na época, esses 17 desenvolvedores de software não tinham ideia sobre o que viria da indústria ou como ágil iria se desenvolver ao longo dos próximos 20 anos.

“O Manifesto Ágil mudou, fundamental ou gradualmente, a forma como as pessoas abordavam o trabalho e se concentravam no cliente”, disse Dave West, CEO e product owner na  Scrum.org. “Entre vinte e cinco a trinta anos atrás, eu trabalhei para uma companhia de seguros na cidade de Londres e nós não nos importávamos com o seguro. Não nos importávamos com o cliente. Apenas escrevíamos códigos nas especificações. O fato de que hoje temos a colaboração do cliente, o fato de que agora nos adaptamos às mudanças, todos esses comportamentos resultaram em vários softwares fabulosos.”

O mundo, no entanto, está muito diferente de quando o Manifesto Ágil foi escrito. Tanto que algumas pessoas vêm se perguntando se ele ainda é relevante no mundo moderno, digital. 

De acordo com Robert Martin, um dos autores do Manifesto Ágil e autor de  “Ágil Limpo: de volta ao básico, ” o próprio manifesto é apenas um marco no tempo. “Ele não precisa de qualquer adição, porque não é um documento vivo, em evolução. É apenas algo que foi dito há 20 anos. A verdade do que foi dito no documento permanece verdadeira hoje”, disse ele.

Dave Thomas, coautor do manifesto, acredita que, na verdade, o manifesto se aplica ainda mais hoje em dia. Devido aos softwares estarem mudando mais rápido do que nunca, as pessoas estão se adaptando ao trabalho remoto, recebendo feedback e se ajustando à medida que as coisas acontecem. “Fica claro que não se pode mais planejar por mais de um ano, de uma vez. Você terá sorte se puder planejar mais de um único mês e, desta forma, estará constantemente fazendo malabarismos e reorganizando as prioridades. A única maneira de fazer isso é se você já tiver o feedback pronto para dizer qual será o impacto de cada decisão”, disse Thomas.

Se eles pudessem voltar…

Se Thomas tivesse a chance de voltar no tempo e mudar qualquer coisa sobre o manifesto, ele gostaria de remover os 12 princípios e deixar – apenas – os quatro valores. Isso porque os princípios diluem o manifesto e dão uma ideia de que há uma maneira específica de fazer o Ágil. “Eu transformaria o manifesto inteiro naquela única página e, possivelmente, só porque pode não ser óbvio para as pessoas, explicaria por que o manifesto não diz O Que fazer”, disse ele. 

Peter Morlion, um programador dedicado em ajudar empresas e indivíduos a melhorar a qualidade de seus códigos, acredita que os 12 princípios ágeis ainda são relevantes hoje. “Isso se dá porque eles são baseados na realidade econômica e na natureza humana, duas coisas que não mudam muito. Em todo o caso, alguns princípios tornaram-se mais radicais do que se pretendia. Por exemplo, deveríamos implantar semanalmente ou até diariamente e agora podemos automatizar mais do que imaginávamos em 2001. Por outro lado, alguns princípios receberam um significado diferente do que imaginávamos em 2001: os indivíduos já não precisam estar na mesma sala para ter uma comunicação eficaz, por exemplo”, escreveu recentemente em um  blog post

Graças ao Agile, fomos capazes de nos adaptar a esses princípios e, enquanto não podemos estar frente a frente devido a pandemia, podemos fazer chamadas de vídeo graças ao software que foi influenciado pela ideia de Ágil, explicou Presten .  

Se Presten estivesse presente na reunião do Snowbird em 2001, ele disse que provavelmente daria uma dica sobre quais resultados podem ser esperados de Ágil, de modo que esses princípios pudessem ser mapeados de volta a esses resultados para ajudar as pessoas a entender O Que e Por Que do Ágil. “Estou obtendo muito mais sucesso e valor do Ágil, estabelecendo metas organizacionais como ‘hey, nós queremos melhorar a previsibilidade,’ e, em seguida, tomando medidas para melhorar este ponto – específico”, disse ele.

West, do Scrum.org, que não foi um dos autores originais do manifesto, acredita que uma coisa que o manifesto é muito certeiro é em como você mede o sucesso e os feedbacks para analisá-lo, adaptá-lo e melhorá-lo. Há uma série de novas iniciativas para fornecer melhores resultados às organizações, como gerenciamento de fluxo de valor e BizOps – business operations. De acordo com West, uma coisa que estas abordagens e Agile têm em comum é a inspeção e adaptação, além da ideia de rápidos loops de feedback e observação. Ele acha que qualquer uma destas abordagens vai ajudar. Se você é um engenheiro de software, O Manifesto Ágil pode ser a melhor coisa para se basear. Se você está no lado gerencial, de negócios, o Manifesto BizOps pode ser um começo mais apropriado. Mas, finalmente, ele disse para começar pelo cliente, o problema e o resultado que você procura. 

Observando o manifesto, Hunt diz que, se ele tivesse uma chance, iria adicionar um prefácio explicando que ágil não é Scrum. “Scrum é uma estrutura leve de gerenciamento de projetos. Ágil é um conjunto de ideais que um método deve suportar. Eles não são a mesma coisa. Você poderia até argumentar que Scrum nem é tão ágil, é mais como um mini modelo cascata/tradicional. Há 20 anos, talvez pudéssemos esperar semanas por algum feedback. Hoje, geralmente, não podemos”, disse ele. 

Thomas diz que também acrescentaria algo sobre respeitar os indivíduos acima de respeitar apenas as regras, a fim de refletir que não é trabalho da organização dizer aos indivíduos como se comportar; isso é trabalho dos indivíduos. Em retrospectiva, ele também teria gostado de ter tido um grupo mais diversificado de pessoas envolvidas no manifesto. 

Cockburn, no entanto, observou que se alguma coisa dentro daquela sala há 20 anos tivesse sido diferente, se tivesse mais alguma pessoa, o resultado teria sido completamente diferente e provavelmente teria sido mais difícil chegar a um acordo. 

O que Cockburn mudaria sobre o manifesto é a formulação de responder às mudanças seguindo um plano. “A discussão que tivemos foi que o ato de planejamento é útil. [Quando] o plano fica desatualizado, é preciso se adaptar às mudanças. As pessoas, especialmente os programadores, acabam usando o manifesto para dizer que ‘não tenho de fazer um plano. Não tenho de ter um prazo.’ E isso é totalmente incorreto. Não há como dirigir uma empresa se você não tem prazos, preços e orçamentos”, disse ele. 

Presten, da Agile.ai, acrescentou: “Eu sou tão grato pelos fundadores, as pessoas em Snowbird e o que eles criaram. Isso realmente tornou o mundo um lugar melhor… Isso está mudando o mundo em que vivemos para melhor e, além disso, até mesmo a cultura que está sendo criada nas empresas em que trabalhamos, onde as decisões estão se tornando descentralizadas. As pessoas são capazes de entrar, crescer, aprender e falhar rapidamente para, assim, ter sucesso. Ter essa rede de segurança tem sido uma coisa muito legal, então eu sou realmente grato aos fundadores, pelo trabalho que eles fizeram, meio que colocando seus próprios pescoços em risco. Acho que todos nos beneficiamos com isso.”

Agile Técnico

Embora seja normal que as ideias se diluem ao longo do tempo, Robert Martin, um dos autores do Manifesto Ágil e autor de  “Ágil limpo: de volta ao básico ”, acredita que o significado de Ágil se tornou mais do que apenas diluído; ele se perdeu. 

Ele explicou que Agile foi originalmente desenvolvido por programadores para programadores, mas depois de alguns anos houve uma mudança para trazer o Ágil para a gestão de projetos. 

“O influxo de gestores de projeto para o movimento ágil mudou sua ênfase de forma dramática. Em vez de Ágil se referir a uma ideia pequena, sobre fazer com que pequenos times desenvolvam projetos relativamente pequenos, ele se transformou em uma maneira de gerenciar projetos de alguma forma ousada e nova, que as pessoas não conseguiam articular”, disse Martin. 

Martin explicou que o objetivo original na reunião do Snowbird, onde se originou o Manifesto Ágil, era criar uma ponte entre negócios e tecnologia, mas o lado dos negócios assumiu o movimento ágil e privou o lado técnico. 

Ele disse que em um momento a Agile Alliance tentou lançar uma conferência técnica ágil, além de sua conferência anual sobre Agile, que reforçou a ideia de que Ágil saiu de seu caminho original. Isso foi realizado duas vezes — em 2016 e 2017 — e, em seguida, descontinuado.

“O que vemos hoje em dia, é que o Ágil se tornou muito popular do lado da gestão do projeto, mas não muito do lado da programação técnica”, disse Martin. “Existem remanescentes de agilidade técnica, como o desenvolvimento orientado a testes e refatoração, mas isso prevalece na comunidade técnica e não na comunidade ágil.” 

“Será que o Manifesto Ágil ajuda o lado da gestão de projetos? Sim, claro, porque cerca de metade do Agile era sobre gestão de projetos, mas a outra metade — o lado técnico —se perdeu. Desta forma, agora falta o lado técnico do Ágil junto da gestão de projetos e, nesse sentido, não tem havido uma boa evolução desde os primeiros dias do manifesto até hoje. Foi uma separação, não uma unificação. Ainda estou à espera dessa unificação”, acrescentou.

Ele explicou que desta forma, sem a unificação, haverá um número crescente de catástrofes de software. “Nós já vimos algumas e elas se tornaram bastante significativas. Nós vimos softwares de carros perderem o controle do veículo, matando dezenas de pessoas e ferindo outras centenas. Houve uma série de processos judiciais interessantes que aconteceram por isso, apenas uma falha de software fez isso. Ouvimos sobre trading companies que perderam meio bilhão de dólares em 45 minutos por causa de falhas de software. Nós vimos aviões caírem, por culpa de software que não estava funcionando devidamente, e este tipo de falha da indústria de software vai continuar.” 

Martin prevê que se não houver a unificação necessária dos dois lados do desenvolvimento de softwares — negócios e técnico — o governo acabará por intervir e fazê-lo por nós. 

“Nós não podemos ter programadores por aí sem algum tipo de disciplina tecnológica que governe a maneira como eles trabalham, isso é o que o Ágil supostamente deveria ser. Ele deveria ser este tipo de guarda-chuva que engloba os dois: gestão de projetos e tecnologia. Agora muitos [tecnólogos] são livres para fazer o que querem, sem qualquer tipo de disciplina”, disse Martin.

“Minha esperança é que possamos vencer isso e juntar esses dois lados, antes que o governo atue e comece a legislar e regular, porque eu não confio neles para fazer isso bem.” Acrescentou Martin.

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ROI sem mágica: como mostrar valor Se o conteúdo que você vai produzir não ajudar o leitor a justificar investimento, ele vira inspiração bonita e morre na gaveta. O ponto não é prometer “revolução”. É mostrar como medir ganhos reais. Um modelo simples funciona bem para PMEs: Você estima o tempo que está sendo gasto em atividades repetitivas e com retrabalho. Você transforma isso em custo (tempo x custo/hora). Você soma impactos de qualidade (erros, retrabalho, atrasos) e impactos de negócio (atendimento mais lento, proposta que demora, perda de oportunidade). E então você compara isso com o custo de adoção: ferramenta, implantação, treinamento e o mínimo de governança. O segredo do ROI responsável é não esconder custo “invisível”. Porque, em ambiente crítico, o custo invisível vira o mais caro: retrabalho, incidentes, perda de confiança, ruído entre áreas, risco de vazamento, desgaste da equipe. Quando você apresenta o ROI dessa forma, a conversa sai do “vamos usar IA porque todo mundo usa” e entra no “vamos usar IA onde faz sentido e onde conseguimos controlar”. Cultura digital: o motor que mantém a IA útil depois do encanto inicial Aqui é onde muita empresa erra. Ela acredita que IA é uma mudança de ferramenta. Na prática, é uma mudança de comportamento. Sem cultura digital, acontecem dois extremos igualmente ruins. No primeiro, a empresa reage com resistência. Ninguém usa, porque “isso vai dar problema”, “isso é modinha”, “isso não é para nós”. O resultado é ficar para trás — e continuar sobrecarregado. No segundo, a empresa vira anarquia. Cada um usa do seu jeito, do seu lugar, para o seu objetivo. O resultado é o risco espalhado — e uma operação inconsistente. Cultura digital madura é equilíbrio: autonomia com responsabilidade. E isso se constrói com coisas simples: exemplos aprovados, boas práticas claras, treinamento leve e constante, e alinhamento entre áreas. Não é um grande evento. É rotina. Uma boa prática é criar um “playbook” curto de uso, com exemplos do que pode e do que não pode, e um repertório de modelos prontos para cada área. Quando você entrega o caminho, você reduz improviso. E improviso é o que mais dói em prazo curto. O que não se deve fazer Se você vai escrever um conteúdo responsável, precisa dizer com clareza onde não começar. Não comece automatizando decisões de alto impacto sem revisão humana. Não comece colocando dados sensíveis em ferramentas sem regra e sem controle. Não comece conectando automações direto em sistemas críticos sem pensar em rollback, validação e exceções. E não comece tratando a IA como fonte final de verdade. Esses “nãos” não existem para travar inovação. Eles existem para proteger a operação e permitir que a IA vire aliada, não risco. Conclusão Sim, PMEs tendem a adotar IA com velocidade. E isso pode ser uma vantagem brutal, especialmente quando o time é enxuto e a demanda só cresce. Mas em ambientes críticos, velocidade sem responsabilidade é só uma forma diferente de atraso, já que mais cedo ou mais tarde o custo aparece. O caminho mais sólido é simples de entender: começar por casos de uso seguros, estabelecer um mínimo de regras, melhorar processos e comunicação, respeitar o legado e criar cultura digital para sustentar a evolução. Isso transforma IA de “atalho” em capacidade. Esperamos que você tenha gostado do conteúdo desse post! Caso você tenha ficado com alguma dúvida, entre em contato conosco , clicando aqui! Nossos especialistas estarão à sua disposição para ajudar a sua empresa a encontrar as melhores soluções do mercado e alcançar grandes resultados ! Para saber mais sobre as soluções que a CSP Tech oferece, acesse: www.csptech.com.br .
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